Sunday, January 13, 2008

O Contrato de Casamento

Na semana passada comemorei trinta anos de casamento. Recebemos dezenas de congratulações de nossos amigos, alguns com o seguinte adendo assustador:”Coisa rara hoje em dia”. De fato, 40% dos meus amigos de infância já se separaram, e o filme ainda nem terminou. Pelo jeito, estamos nos esquecendo da essência do contrato de casamento, que é a promessa de amar o outro para sempre. Muitos casais no altar acreditam que estão prometendo amar um ao outro enquanto o casamento durar. Mas isso não é um contrato.

Recentemente, vi um filme em que o mocinho terminava o namoro dizendo: “Vou sempre amar você”, como se fosse um prêmio de consolação. Banalizamos a frase mais importante do casamento. Hoje, promete-se amar o cônjuge até o dia em que alguém mais interessante apareça. “Eu amarei você para sempre” deixou de ser uma promessa social e passou a ser simplesmente uma frase dita para enganar o outro.

Contratos, inclusive os de casamento, são realizados justamente porque o futuro é incerto e imprevisível. Antigamente, os casamentos eram feitos aos vinte anos de idade, depois de uns três anos de namoro. A chance de você encontrar sua alma gemia neste curto período de pesquisa era somente de 10%, enquanto 90% das mulheres e homens da sua vida você iria conhecer provavelmente depois de casado. Estatisticamente, o homem ou a mulher “ideal” para você aparecerá somente, de fato, depois do casamento, não antes. Isto significa que provavelmente seu “verdadeiro amor” estará no grupo que você ainda não conhece, e não no grupinho de cerca de noventa amigos da adolescência, do qual saiu seu par. E aí, o que fazer? Pedir o divórcio, separar-se também dos filhos, só porque deu azar? O contrato de casamento foi feito para resolver justamente este problema. Nuca temos todas as informações necessárias para tomar as decisões corretas.

As promessas e os contratos preenchem justamente esta lacuna, preenchem estas incertezas, sem a qual ficamos paralisados à espera de mais informações. Quando você promete amar alguém, está prometendo o seguinte: “Eu sei que nós dois somos jovens e que vamos viver até os 80 anos de idade. Sei que fatalmente encontrarei dezenas de mulheres mais bonitas e mais inteligentes que você ao longo da minha vida e que você encontrará dezenas de homens mais bonitos e inteligentes que eu. E justamente por isso prometo amar você para sempre e abrir mão desde já dessas dezenas de oportunidades conjugais que surgirão em meu futuro. Não quero ficar morrendo de ciúme cada vez que você conversar com um homem sensual nem ficar preocupado com o futuro do nosso relacionamento. Nem você vai querer ficar preocupada cada vez que eu conversar com uma mulher provocante. Prometo amar você para sempre para sempre, para que possamos nos casar e viver em harmonia”. Homens e mulheres que conheceram alguém “melhor” e acham que agora cometeram enorme erro quando se casaram com o atual cônjuge esqueceram a premissa básica e o espírito do contrato de casamento.

O objetivo do casamento não é escolher o melhor par possível mundo afora, mas construir o melhor relacionamento possível com quem você prometeu amar para sempre. Um dia vocês terão filhos e ao colocá-los na cama dirão a mesma frase, que irão amá-los para sempre. Não conheço pais que penam em trocar os filhos pelos filhos mais comportados do visinho. Não conheço filho que aceite, de início, a separação dos pais e, quando estes se separam, não sonhem com a reconciliação da família. Eles aprendem a conviver com os pais que têm.

Casamento é o compromisso de aprender a resolver as brigas e as rugas do dia-a-dia de forma construtiva, o que muitos casais não aprendem, e alguns nem tentam aprender. Obviamente que se sua mulher se transformou numa megera ou seu marido num monstro, a situação muda. Mas para aqueles que querem ter vantagem em tudo na vida, talvez a saída seja postergar o casamento até os 80 anos. Aí, você terá certeza de tudo!

Stephen Kanitz

No comments: