Sunday, January 13, 2008

Mistérios do Coração

Muitos homens viviam à imagem do cavaleiro medieval, conquistando reinos, cumprindo ordens de reis e suas amadas e deixavam de lado as próprias vidas.Os homens se preparavam para uma vida do lado de fora do castelo e acabavam não sabendo estar junto às pessoas que lhes eram importantes.Como deveria sentir-se um cavaleiro medieval, acostumado em estar em constantes batalhas no campo, naqueles momentos de trégua, quando voltava para o castelo e que descobriam que a mulher e os filhos já haviam se organizado para viver sem ele?Certamente, para seu espírito de aventura, a vida parecia muito vazia dia após dia, no mesmo lugar, com as mesmas pessoas, que já não se importavam com a presença dele.É aí que reside o grande desafio do ex-cavaleiro medieval tem de enfrentar: descobrir a beleza que o cotidiano pode esconder...De repente, o soldado parou e perguntou a si mesmo o que estava fazendo no Vietnã, numa luta que não era sua, longe do lugar em que gostaria de estar, e muitas vezes envolvido numa batalha perdida. Qual era o sentido de tudo isso? Não seria melhor estar em casa, procurando conquistar sua mulher e seus filhos, mesmo que lhe parecesse monótono?Este é o grande aprendizado: saber estar com quem se ama. Saber reconhecer e mostrar ao outro, mesmo que por poucos minutos, o quanto ele é importante. Saber deixar o jornal de lado, abandonar a televisão e outras coisas, para simplesmente ficar de verdade ao lado de quem se ama. Isso é o que realmente vai importar, quando você for avaliar a sua vida.As mulheres, por seu turno, foram criadas para ficar dentro do castelo, se anulando, enquanto seus homens lutavam. Algumas foram à luta, movidas pelo seu desejo de realização, insatisfeitas com o papel de coadjuvante. Porém assumiram o tipo masculino de viver: solitário, andarilho, reprimindo o medo e o afeto.Tornaram-se também cavaleiros andantes medievais... Mas agora o castelo ficou abandonado.Os homens que elas dominavam geralmente não despertavam seus interesses. E com aqueles que admiravam, estabeleciam, inconscientemente, uma relação de competição.Hoje começam a ver a possibilidade de se apaixonar por homens mais simples e de aprender a viver cooperativamente com aqueles que consideram fortes.Outras seguiram esperando dentro do castelo e, quando seus cavaleiros não voltavam, sentiam-se perdidas e se puseram a reclamar, querendo que eles cumprissem sua promessa de retorno. E acabaram mandando-os embora ainda mais rápido. Amargaram uma sensação de traição muito grande, porque não haviam desenvolvido outra coisa, se não a capacidade de cuidar dos outros e de pensar que mereciam recompensas por este trabalho. Acabaram estimulando mais a piedade dos homens do que seu desejo, mais sua culpa do que a alegria. Acabaram se transformando num peso para aqueles que as amavam.Hoje, as mulheres começam a perceber que não há sentido algum em se matar de trabalhar para manter um castelo que só é visitado nos aniversários e nos Natais. Estão trocando este castelo por um apartamento pequeno e se dando mais tempo para viver realmente as suas vidas.O homem não é inimigo da mulher. A mulher não é inimiga do homem. O inferno não é o outro, mas esta dentro de cada um de nós, em nossos medos. Na verdade não existe inimigo. “Quando lutar, perceba que esta lutando contra você mesmo. Os únicos adversários são seus próprios medos. E se lutar contra outro lutador, vai perder mesmo que ganhe a disputa. Mas se entender que a batalha é contra os seus medos, você irá ganhar, não importa qual seja o resultado do combate contra o seu adversário”.E, lado a lado com esse profundo envolvimento, serão respeitadas as necessidades individuais de exploração do mundo, o que facilitará às pessoas mergulhar em buscar espirituais. Haverá vida amorosa no interior do castelo, explorando a dois o mundo externo e espaço para as viagens de cada um...Mas há de se lembrar que os relacionamentos são frutos da condição interior de cada um; que não adianta dar um salto de qualidade de vida do casal, se os parceiros não têm dentro de si as condições necessárias para este mergulho.É importante, às vezes, seguir o exemplo dos camponeses, que sabem que determinadas culturas não se adaptam a sua região e não as plantam. Porém, quando plantam a cultura adequada, sabem esperar o momento certo para colher seus frutos.O amor é lindo, entretanto, quando se inicia uma relação, demora algum tempo para que nos dê paz. Ele proporciona excitação, paixão, descobertas, milhões de coisas, mas a paz só vem depois que superarmos os nossos medos que o amor traz.


Roberto Shinyashiki

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