Thursday, August 30, 2007

Puro e Profano

Tento derrubar as barreiras físicas, num universo palpável, que me deixariam mais próxima do sagrado, busco controlar impulsos e demônios que impedem a minha evolução. É também nesta hora que aumentam as minhas paixões e os meus desejos, as ilusões dos sentidos. O que eu sinto de mais puro é o que eu faço de mais profano. Tudo parece tão antagônico, mas não quero parar agora, não é hora de fugir deste desafio. Persisto no caminho até quando eu agüentar. Eu já deveria tê-lo percorrido e superado. Se é que se supera...
Ontem numa conversa de amigos na mesa de um bar não foi diferente da maioria das outras. Exceto quando entre arquétipos discutimos sobre A Imperatriz, o quanto esta carta se parecia comigo e é ela a inspiração para o nome do meu blog. Contei a eles que um cigano havia me dito que eu tenho o rosto de menina por ter uma cigana criança comigo, e quando eu falo e ajudo as pessoas, é uma velha cigana sábia quem me acompanha. Entre uma e outra, outras ciganas estão presentes e que eu haveria de descobrir. Ele também me aconselhou a voltar a dançar para me encontrar.
Um amigo fez uma analogia entre a criança, a velha e a Imperatriz. Ele defendia que na criança e na velha sábia não havia sexualidade implícita e explícita. Na carta número 3(três) do tarô encontra-se o Poder Feminino sob os governos e homens, fala sobre a Inteligência e o Amor Genuíno, Cultura e Espiritualidade e, principalmente, é símbolo da Razão. Onde está a sexualidade? _ Perguntava meu amigo como se inspirado por uma intuição que não queria calar, querendo dizer que eu precisava trabalhar esta área em mim.
Ele não sabia que eu sou sexóloga, me fiz de ouvinte para perceber se aquilo fazia sentido. Falar sobre sexo para os outros é fácil, vivenciar sua própria sexualidade exige conflitos. Nem sempre é confortável saber que alguns dos meus pacientes podem ter querido me levar para cama, mesmo que nenhum até agora tenha conseguido, alguns já verbalizaram. Permito-me aos meus conflitos, porém talvez eu esteja dando pouca importância a eles.
Hoje compreendo sexo sem compromisso, compromisso sem sexo, sexo por amor sem casamento, em casamento sem amor, amantes e traições sem intenção de trair quem se ama. Mas não me permito viver estas experiências assim desta forma, tenho a esperança de sexo por amor. Mesmo que não seja para sempre, será eterno na minha memória todo aquele que eu amar verdadeiramente e me deitar com ele para dar sentido completo à relação. No fundo das minhas das minhas exigências é isso que eu ainda procuro e vou buscando entre tentativas e erros. O que quero é presença e cumplicidade, até para eu ter menos vergonha de ousar. Duvido que a modernidade tenha criado mulheres tão insensíveis a ponto de elas, assim como eu, abandonarem a graça de querer ser conquistada e seduzida e a necessidade de carinho, segurança e consolo em cada uma delas.
Não estou pedindo ninguém em casamento, este é outro assunto. E como diria Raul Seixas e Paulo Coelho; “É pena que você pense que eu sou seu escravo dizendo que eu sou seu marido e não posso partir. Como as pedras imóveis na praia, eu fico ao teu lado sem saber dos amores que a vida me trouxe e não pude viver. E não posso entender tanta gente aceitando a mentira de que os sonhos desfazem aquilo que o Padre falou. Porque quando eu jurei meu amor eu traí a mim mesmo. Hoje eu sei que ninguém nesse mundo é feliz tendo amado uma vez”. Outro dia eu dissertarei sobre isso. Não quero me preocupar em fazê-lo neste contexto, e ninguém vai me pedir em casamento por enquanto.
No dia seguinte acordei com a ressaca do Vinho do Porto avinagrado que me serviram_ pelo menos reclamei com o gerente e não precisei pagar a conta. Entrei para ler alguma coisa pela manhã na internet e li um texto de Tico Sta Cruz (Detonaltas) _ a meu ver um sujeito interessante. Ele descreve uma relação sexual, deixo aqui apenas o Link: http://clubedainsonia.blogspot.com/2007/08/how-west-was-won.html . Então me deparo com a descrição de uma mulher chamada de vadia e declarada como amada pelo mesmo homem. Será que ela é mesmo uma vadia? Será que ela é realmente amada?
Toda conversa da noite me veio à mente... Acho que entendi uma parte do enigma: Eu não gosto de saber que posso ser vadia _ isso fica marcado para sempre. Prefiro ser apenas amada _ mesmo que apenas por pouco tempo! Os arquétipos dão sentido aquilo que eu preciso repensar sobre sexo, o papel que represento para meus parceiros. Insisto em ver o encontro dos corpos durante o sexo como sagrado, metafísico, algo além da carne. E eu juro não sou puta. Embora neste momento o profano exista e persista como um caminho para este encontro. E ele, como homem, jura que ama sua parceira. Isso parece um monte de conceitos profundos e ao mesmo tempo sem sentido, um quebra-cabeça, as peças começam a tomar forma e não sei qual a figura final. Enquanto isso eu vou ensaiando... E um dia eu simplesmente transcendo!

Tinne Fonseca

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