Sunday, July 29, 2007

Formato Mínimo (Skank)

Saturday, July 21, 2007

Beatriz

(Chico Buarque)

Olha
Será que ela é moça
Será que ela é triste
Será que é o contrário
Será que é pintura
O rosto da atriz
Se ela mora no sétimo céu
Se ela acredita que é outro país
E se ela só decora o seu papel
E se eu pudesse entrar na sua vida


Olha
Será que ela é louça
Será que é de éter
Será que é loucura
Será que é cenário
A
casa da atriz
Se ela mora num arranha-céu
E se as paredes são feitas de giz
E se ela chora num quarto de hotel
E se eu pudesse entrar na sua vida
Sim, me leva pra sempre, Beatriz
Me ensina a não andar com os pés no chão
Para sempre é sempre por um triz
Aí, diz quantos desastres tem na minha mão
Diz se é perigoso a gente ser feliz




Olha
Será que é uma estrela
erá que é mentira
Será que é comédia
Será que é divina
A vida da atriz
Se ela um dia despencar do
céu
E se os pagantes exigirem bis
E se o arcanjo passar o chapéu
se eu pudesse entrar na sua vida


Olha
Será que ela é moça
Será que ela é triste
Será que é o contrário
Será que é pintura
O rosto da atriz
Se ela mora no sétimo céu
Se ela acredita que é outro país
E se ela só decora o seu papel
E se eu pudesse entrar na sua vida





Olha
Será que ela é louça
Será que é de éter
Será que é loucura
Será que é cenário
A casa da atriz
Se ela mora num arranha-céu
E se as paredes são feitas de giz
E se ela chora num quarto de
hotel
E se eu pudesse entrar na sua vida
Sim, me leva pra sempre, Beatriz
Me ensina a não andar com os pés no chão
Para sempre é sempre por um triz
Aí, diz quantos desastres tem na minha mão
Diz se é perigoso a gente ser feliz



Olha
Será que é uma estrela
Será que é mentira
Será que é comédia
Será que é divina
A vida da atriz
Se ela um dia despencar do céu
E se os pagantes exigirem bis
E se o arcanjo passar o chapéu
E se eu pudesse entrar na sua vida

Friday, July 20, 2007

Uma noite estranha de outono, em Um Dia de Verão

Semana passada fui ao teatro, é sempre bom sentir a magia do teatro... Um dos meus vícios! Um Dia no Verão; com Renata Sorah, Silvia Boarque, Gabriel Braga Nunes, Fernando Eira / Texto de Jon Fosse e Tradução de Lya Luft. Apesar do título, o drama da mulher prostrada na janela acontecera numa noite estranha de outono e se repete todos os dias há mais de vinte e cinco anos. Como muitas que conheço, e com certeza ainda vou conhecer, lá estava a jovem senhora esperando o dia em que seu homem amado retornaria_ é claro que ele nunca voltou! Adorei o cenário, tinha chuva de água de verdade e o mar tão grande quanto perto dos olhos do público. O texto trazia em si aquilo que já faz parte do dia a dia da minha profissão, o sofrimento. Antes do sujeito desaparecer ele sentia uma inquietude sem explicação, lembrei-me da minha, mas ele ainda tinha um amor que eu desconheço.
Quando saímos minha irmã me perguntou por que eu não escrevia peças de teatro. Disse a ela que um dia o farei. Ah! Não me faltam idéias e palavras, me falta coragem e disciplina. De repente uma mulher grita: “_ Minhas pernas estão bambas, eu to passando mal! Acho que vou vomitar... Me conta isso direito! O que aconteceu? Ele ficou com você? Eu estou muito nervosa, não acredito! (...) Ele passou a mão na sua perna? Você ficou com o meu namorado?.” Num tom irônico minha irmã pediu pra eu ir lá socorrer a moça. Eu disse estar fora do meu horário de trabalho e ri. Rimos juntas do clima de poesia estragado pela dura realidade de uma mulher ao celular.
É isso, a gente nunca sabe mesmo se um homem está entregue por inteiro ao nosso amor. Um desaparece no mar, passara a maior parte do seu tempo num barquinho de madeira até nunca mais voltar. O outro, mesmo namorando, gasta seu tempo livre investindo em outras mulheres _ Cheguei a pensar que a namorada e a amiga poderiam ter armado tudo para ele cair nesta armadilha comprovando sua instintiva infidelidade. Coitada destas mulheres, estes homens são uns egoístas e só pensam mesmo neles quando agem! Hum... Sabe que às vezes um egoísta faz falta? Mas eu não gosto de janelas e nem ratoeiras! (rsrsrsrs...)
Tinne Fonseca _ A Imperatriz ; julho 2007

Friday, July 13, 2007

O Portal

O VenTo

_ Joutaro! Não fique nervoso e me escute até o fim, com calma. Tem que saber que em muito breve, estarei em situação de vida ou morte.
_ Mas você vive dizendo que um samurai tem de acordar a cada manhã preparado para morrer antes do final deste dia! Isso não deve ser nenhuma novidade para você!
_ É verdade! São palavras que digo a todo instante, mas como soam como uma nova lição quando você as diz. Esta vez, porém, é diferente de todas as outras... Tenho de estar preparado para enfrentar o duelo... É por isso que não devo me encontrar com Otsu-san
_ Mas por quê? Por que, mestre?
_ Mesmo que eu lhe dissesse o porquê você não entenderia. Um dia quando você crescer compreenderá. [...] Não diga isso a Otsu-san, ouviu bem? Se ela está doente, diga-lhe que Musashi pediu para sarar logo, escolher um rumo na vida e ser feliz... Entendeu, Joutaro? Diga-lhe que foi o que eu disse antes de partir, mas não conte o resto. [...]
_ Mas, mestre... _choramingou_ Assim é demais! Tenha pena de Otsu-san! Tenho certeza de que se eu contar o que aconteceu hoje, ela vai piorar! Tenho certeza!
_ Então dia a ela: não adianta nos encontrarmos agora, quando eu ainda estou aprendendo a ser um guerreiro, isso apenas nos tornará infelizes. Quando vencemos as adversidades ou buscamos suporta-las com estoicismo, quando nos lançamos voluntariamente num vale cheio de dificuldades, só então o aprendizado se torna significativo. E agora, Joutaro: não se esqueça que terá também de percorrer esse caminho para se tornar um guerreiro completo. [...] Um guerreiro nunca sabe quando vai morrer, isso é parte do seu cotidiano. Depois que eu me for deste mundo, procure um bom mestre, entendeu Joutaro? Quanto a Otsu-san... Futuramente, quando ela tiver encontrado a felicidade, há de compreender por que não a procuro agora... Ela deve estar se sentindo muito solitária sem você. Entre, volte para perto dela e trate de dormir também, Joutaro.
Embora fosse às vezes obstinado, Joutaro pareceu compreender pelo menos parte dos dilemas de Musashi. Provava-o a sua atitude: de costas, ressentido soluçava em silêncio. O ressentimento e o soluço vinham da incapacidade de resolver o problema. O pequeno coração se confrangia de pena de Otsu e de saber que era inútil insistir com Musashi.
_ Neste caso _ disse o menino, voltando o rosto em lágrimas com uma ponta de conformismo, quando você terminar seu aprendizado... Nesse dia você virá encontrar-se com a Otsu-san, mestre? Quando enfim chegar o dia em que você considerar concluído o seu aprendizado?
_ É o que mais desejarei quando este dia chegar.
_ E quando será este dia?
_ Como posso saber?
_ Daqui a dois anos?
_ ...
_ Três anos?
_ Ando por um caminho sem fim.
_ Isso quer dizer que pretende nunca mais se encontrar com Otsu-san?
_ Se eu realmente tenho talento, pode ser que um dia obtenha sucesso. Mas posso não o ter, e neste caso talvez chegue ao fim da vida como um simplório inútil. [...] Como pode um homem nesta situação prometer alguma coisa a uma jovem na flor da idade, que tem o futuro inteiro pela frente?
Joutaro pareceu não compreender direito as explicações quase involuntárias de Musashi, e voltou-se com ar vivo:
_ Mas mestre, você não precisa prometer nada a ela, basta apenas que a veja!
Quanto mais Musashi se explicava, mais se sentia incoerente e confuso, e sofria com isso.
_ Não é tão fácil assim, Joutaro. Otsu-san é uma mulher e eu sou um homem. Sinto-me constrangido em ter de confessá-lo, mas se me encontrar com ela, sei que serei vencido por suas lágrimas, que elas quebrarão minha firme decisão. [...]

Agora, porém, à medida que a antiga selvageria começava a ser educada, o jovem Musashi começava a perceber certa dose de fraqueza em sim mesmo.
Compreender o valor da vida já fora suficiente para ensinar-lhe o medo. [...] Com relação as mulheres, especificamente, Musashi havia percebido através de Yoshino como elas poderiam ser atraentes e, ao mesmo tempo, quantas paixões diferentes despertavam dentro dele. Neste momento Musashi não temia esses objetos tentadores propriamente ditos, mas o próprio coração. E se o objeto tentador era Otsu, ele já não tinha certeza de mais nada. Por outro lado, era impossível pensar nela como um simples passatempo, desconsiderando seu futuro.


(Musashi; Eiji Yoshikawa – Vol.I)

Tuesday, July 10, 2007

Meu Aniversário - 2007

Escolho meus amigos pela cara lavada e pela alma exposta.

Meus amigos são todos assim: metade bobeira, metade seriedade.

Não quero amigos adultos nem chatos...

Crianças para que não esqueçam o valor do vento no rosto

e velhos para que nunca tenham pressa.

Tenho amigos para saber quem eu sou,

pois vendo-os loucos e santos, bobos e sérios,

crianças e velhos, nunca me esquecerei que

a normalidade é uma ilusão estéril.

(Oscar Wilde)


Comemorando...

Reverência ao destino

(C.Drummond)

Falar é completamente fácil, quando se tem palavras em mente que expressem sua opinião. Difícil é expressar por gestos e atitudes o que realmente queremos dizer, o quanto queremos dizer, antes que a pessoa se vá.
Fácil é julgar pessoas que estão sendo expostas pelas circunstâncias. Difícil é encontrar e refletir sobre os seus erros, ou tentar fazer diferente algo que já fez muito errado.
Fácil é ser colega, fazer companhia a alguém, dizer o que ele deseja ouvir. Difícil é ser amigo para todas as horas e dizer sempre a verdade quando for preciso. E com confiança no que diz.
Fácil é analisar a situação alheia e poder aconselhar sobre esta situação. Difícil é vivenciar esta situação e saber o que fazer. Ou ter coragem pra fazer.
Fácil é demonstrar raiva e impaciência quando algo odeixa irritado. Difícil é expressar o seu amor a alguém querealmente te conhece, te respeita e te entende. E é assim que perdemos pessoas especiais.
Fácil é mentir aos quatro ventos o que tentamos camuflar. Difícil é mentir para o nosso coração.
Fácil é ver o que queremos enxergar. Difícil é saber que nos iludimos com o que achávamos ter visto. Admitir que nos deixamos levar, mais uma vez, isso édifícil.
Fácil é dizer "oi" ou "como vai?" Difícil é dizer "adeus". Principalmente quando somos culpados pela partida de alguém de nossas vidas...
Fácil é abraçar, apertar as mãos, beijar de olhos fechados. Difícil é sentir a energia que é transmitida. Aquela que toma conta do corpo como uma corrente elétrica quando tocamos a pessoa certa.
Fácil é querer ser amado. Difícil é amar completamente só. Amar de verdade, sem ter medo de viver, sem ter medo do depois. Amar e se entregar. E aprender a dar valor somente a quem te ama.
Fácil é ouvir a música que toca. Difícil é ouvir a sua consciência. Acenando o tempotodo, mostrando nossas escolhas erradas.
Fácil é ditar regras. Difícil é seguí-las. Ter a noção exata de nossas próprias vidas, ao invésde ter noção das vidas dos outros.
Fácil é perguntar o que deseja saber. Difícil é estar preparado para escutar esta resposta. Ou querer entender a resposta.
Fácil é chorar ou sorrir quando der vontade. Difícil é sorrir com vontade de chorar ou chorar derir, de alegria.
Fácil é dar um beijo. Difícil é entregar a alma. Sinceramente, porinteiro.
Fácil é sair com várias pessoas ao longo da vida. Difícil é entender que pouquíssimas delas vão te aceitar como você é e te fazer feliz por inteiro.
Fácil é ocupar um lugar na caderneta telefônica. Difícil é ocupar o coração de alguém. Saber que se é realmente amado.
Fácil é sonhar todas as noites. Difícil é lutar por um sonho.
Eterno, é tudo aquilo que dura uma fração desegundo, mas com tamanha intensidade, que se petrifica, e nenhuma força jamais o resgata.