Monday, November 21, 2005

Amor virtual: até que ponto é possível?

(Sergio Savian)

O e-mail, as salas de bate-papo, o ICQ, o messenger, a videocam facilitam as comunicações e criam uma nova forma de se relacionar: paquera virtual, namoro e amizade virtual, sexo virtual (masturbação, na real).Você pode paquerar, fazer novos contatos e amizades pela Net, mas no que se refere ao desenvolvimento do relacionamento amoroso, esta linguagem deixa muito a desejar.No dicionário, virtual é o que existe como faculdade, porém sem efeito atual. Suscetível de realizar-se; potencial. Por outro lado o amor é uma experiência tão real e só acontece de fato quando está relacionado com o momento presente. O amor não pode acontecer no passado, nem no futuro, pois assim ele não passa de algo ilusório.O computador acelera os contatos, mostrando-se um excelente veículo de aproximação e descoberta de novas possibilidades, mas pela sua natureza fria, é péssimo no que diz respeito ao sentir. Quando precisamos de sensibilidade e profundidade, a linguagem virtual nem sempre é adequada. Nada substitui os cinco sentidos e o contato direto na percepção da outra pessoa e principalmente, dos sentimentos que circulam entre você e ela.Vivemos num mundo onde tudo é editado. Na TV, no rádio, em todos os meios de comunicação, incluindo a Net, descarta-se o lado imperfeito e escuro da vida para apresentar somente o que convém.Desta forma, quando alguém se apresenta no universo virtual, mostra somente uma parte de si mesmo. E é muito comum você se decepcionar quando encontra a pessoa, constatando que ela é bem diferente da sua imaginação.É muita gente que se corresponde pela Internet, com pouca coragem para um encontro cara-a-cara. Choram, descabelam-se, brigam, têm ataques de ciúmes, deliram, tudo isso sem nuca ter visto o outro. São muitas promessas e pouca ação. Muita mente e pouco coração. Sem o contato direto, sempre estaremos propensos a relações ilusórias. Por isso é sábio reconhecer as qualidades da linguagem virtual usando-a somente em seu melhor contexto.O ficar é um jeito virtual de serMas não é somente na Internet que somos virtuais. Também o somos quando substituímos a vida afetiva por pequenos encontros, não aprofundando as relações. É um jeito de não se mostrar, de não encarar as dificuldades que um relacionamento promove. Afinal de contas, se você quer amar e ser amado, deve entender que isto não ocorre se você não se entrega.Engana-se quem pensa que este comportamento é típico somente de adolescentes. Hoje, adultos de todas as idades estão assumindo este jeito de se relacionar, quando a liberdade assume uma importância tão grande quanto o próprio encontro amoroso.Está por vir a síntese que harmoniza o amor e a liberdade. Só assim aprenderemos a nos relacionar sem deixarmos de ser autênticos.Para que eu ame alguém é fundamental que exista um eu. E para que você me ame, precisa existir um você. Mas se não temos disposição para nos aproximar de nós mesmos, se vivemos trabalhando, se não nos cuidamos, não há quem possa amar, nem ser amado.Se você olha no espelho e detesta ver sua própria imagem ali refletida, como posso eu lhe querer?Se você pretende ter um relacionamento cheio de vida, isso só é possível se os dois souberem tomar conta de si mesmos. E essa é uma tarefa completamente individual.Eu não posso tomar conta de você e tampouco você pode tomar conta de mim.Todo mundo espera encontrar alguém interessante, mas a pergunta que faço é: e você, é interessante? Ou você anda bitolado, sempre andando no caminho da sua própria roça?Um relacionamento vivo combina com movimento, com energia e isso só se consegue quando você não é preguiçoso, quando arregaça a manga e faz alguma coisa para mudar.E tudo começa por você mesmo. Em vez de fazer tudo igual, chute o pau da barraca e tome uma atitude.Você se surpreende, fica feliz consigo mesmo. Deixa de ser tão previsível e por conseqüência se torna mais atraente. Gostou da idéia? O que está esperando então? Aproveite agora para começar agora um novo momento de sua vida amorosa.Só é possível ajudar um adolescente em suas questões amorosas se você se dispõe a também fazê-lo consigo mesmo. Como essa é uma questão complexa para todos, a melhor ajuda talvez esteja em reconhecer que estamos todos num mesmo barco e que juntos, podemos navegar por estes mares do amor.

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