Eu não quis manter as lembranças por perto e numa pequena caixinha guardada na minha sombra sufoquei meu sentimento por ti. Elas ficaram ali escondidinhas, eu quase não as notava. Não tinha direito de cobrar promissórias que assinei com meus sonhos, ninguém prometeu que seria pra sempre. Estava certa que jamais precisaria resgatar a intensidade deste romance. Despedi-me. Na memória levo o inesperado do luto. Coisas que o tempo levaria com o passar dos anos...
Para a manutenção da boa educação eu fui cortez. Você diz não saber até onde somos educados um com o outro. Você se preocupou em não me magoar, mas não conteve suas palavras para declarar seu carnal desejo marginal por me ter como uma fruta doce. Em segredo eu deixei a vontade de ver o tigre tatuado e a mostra quando estavas nu. Somente para você o sexo pelo simples prazer alcançado durante o ato faria sentido. Calei-me. E eu não quis dar o braço a torcer por minhas expectativas além da cama.
Eu tive que me contentar quando disse que de “certo modo” eu sempre fui especial porque eu controlava suas tempestades e te confortava. Afastei-me. Infelizmente, não foi a sua presença que eu tinha quando era eu quem estava presa a Caverna dos Demônios da Montanha Obscura e fabricava pérolas dos meus mais diversos sofrimentos. Muita coisa aconteceu sem a sua participação _ nem se quer estiveram relacionadas a ti, e você não percebeu. Mesmo assim se achou no direito de me cobrar o motivo das cicatrizes.
Maldita hora do reencontro! Ingenuidade a nossa pensar que o passado não viria à tona sendo influenciado pela frieza e distância estabelecia nos últimos meses. Nem as tatuagens se mantiveram as mesmas. Foi duro ler um nome de mulher que não exista antes entre as estampas coloridas visíveis do seu corpo. Apesar do bem que fizemos um ao outro, te ver novamente nos destruiu. Senti-me uma taça de cristal quebrada, sem concerto. Como se só me restasse o lixo, ser descartada da sua vida para sempre.
Confessei minha fraqueza por não ter conseguido sair da relação sem me sentir envolvida. Mostrei-me. Revelei finalmente o que senti. Não pedi solução rápida para um problema, não exigi que você tivesse algo a dizer e muito menos precisava ser aconselhada. E ouvi um rosário completo sobre modernidade e mulheres da minha geração. Dane-se o que elas fazem ou pensam, nenhuma delas vai chorar minhas lágrimas! Se quiseres ser mais leal e verdadeiro precisa aprender a lidar com a verdade dos outros ao invés de tentar corrigi-los.
Sinto ter te atingido sem ter lutado, minha resistência foi o meu maior ataque. E sua reação proporcional ao seu momento atual, talvez nem haja relação comigo. Deveríamos ter nos enfrentado no tatame, seríamos melhores e mais justos se fossemos lutadores profissionais. Não quis seguir as suas regras e você fingiu muito mal ter aceitado as minhas. De nada adiantou uma conversa cilivizada sobre família, carreira e planos para o futuro. Conversas sem nexo, palavras jogas fora quando se tinha muito a dizer.
Provavelmente eu tenha me apaixonado por alguém que eu pensava que você fosse... , um personagem saído das histórias épicas de guerras e conquistas. Já não sei se era a máscara ou o próprio mascarado quem me aproximava do êxtase físico e literário. Sua fantasia me preenchia e me conectava com o sagrado trazendo uma esperança renovada, como encontrar-me com guerreiros reais encarnados. Acreditei que pudesse haver homens capazes de tornar o mundo melhor por suas convicções e atitudes. Porém, deparei-me apenas com meninos grandes e suas armaduras...
Tinne Fonseca _ A Imperatriz
01 de junho de 2008
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