Voltei a trabalhar, e uma sensação estranha me meio com toda força. Eu nunca havia sentido nada parecido antes nestes meus mais de oito anos de profissão. No final do ano passado eu estava bastante cansada fisicamente e com a agenda lotada. Precisei dar uma parada longa para recarregar minhas energias e o fiz por quarenta dias. Agora volto. Os pacientes vão voltando aos poucos. Como de costume, na primeira semana os atendimentos se resumem a quase nada. São os laudos, relatórios, atualização de pastas e contas que tomam meu dia. Em uma semana devo ter atendido apenas dois dias de rotina normal, ou seja, poucas pessoas em relação ao ritmo louco de uma rotina normal de consultório. Após a escuta destas poucas horas, fiquei me perguntando se estou realmente pronta para voltar a exercer minha função. As feridas deles são profundas... Será que estou preparada? Como eu consegui chegar até aqui? Como eu conseguir ter tantos pacientes e ser bem sucedida? Eu vejo hoje, mas que nunca, como a minha profissão é difícil porque é difícil trabalhar a dor! A dor acaba de entrar em minha mente sem pedir licença... Será que sou mesmo boa o suficiente para ajudá-los? Por que os eles, pacientes ou não, sempre me procuram? Por que alguns abandonam o tratamento? Sentir-me como eles se sentem e entender o que se passa no coração de cada um não é nada fácil. O engraçado é sempre ter tirado isso de letra esta dualidade e ao retornar desta vez estou me perguntando se eu realmente sou uma boa profissional. Novamente vou ouvir dores próximas as minhas dores, ficar insensível a elas é impossível. Alguns são exatamente os meus questionamentos, e outros minhas respostas mais sinceras... Entre uma pessoa e outra levanto minhas questões existenciais. E, reconheço minha força para tê-las e não fugir delas. Será que são as minhas dores que precisam ser cuidadas e eu não tenho feito isso? Será que vou dar conta do que me aguarda nos próximos meses? A intensidade de relação de ajuda é feita de troca. Estou disponível emocionalmente para esta troca? Não estou doente, pelo contrário, estou feliz e satisfeita com tudo o que conquistei até agora. Mas será que eu mereço tudo isso? Será que tudo não passa de aparência? Estarei eu me escondendo atrás de livros e de um jaleco branco? Minhas férias estão fervendo e meus pensamentos se perdem dentro de mim... Sinto que neste exato momento estou me desorganizando para deixar-me em ordem mais uma vez, como um cavaleiro que prepara e veste sua armadura para a batalha.
Tinne Fonseca _ A Imperatriz
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